Os Créditos de Carbono como terreno fértil para o setor agrícola

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Os Créditos de Carbono como terreno fértil para o setor agrícola

Descubra porque o agronegócio se tornou peça fundamental na mitigação dos efeitos climáticos

 

A regulação do mercado de carbono teve início em 2015, quando foi incorporada ao Acordo de Paris, e seus últimos detalhes foram acordados durante a Conferência sobre Mudanças Climáticas (COP26) em novembro de 2021. O objetivo principal é reduzir as emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE) para evitar que o aquecimento global ultrapasse 1,5°C nos próximos anos. Embora se fale muito em “carbono” por ser o GEE mais emitido pelas ações humanas, o termo correto a ser utilizado é “carbono equivalente” (CO2eq), pois engloba qualquer outro GEE, como metano (CH4), óxido nitroso (N2O) e outros. 

Há algum tempo, o Brasil vem discutindo a criação de um mercado de carbono regulado, no qual créditos poderão ser vendidos para países que precisam cumprir metas obrigatórias de redução de emissões. Especialistas apontam que o Brasil possui um potencial bilionário para se tornar um exportador de créditos de carbono. Um estudo encomendado pela Câmara de Comércio Internacional (ICC Brasil) à WayCarbon corrobora essa expectativa, indicando que o país poderá gerar cerca de US$ 100 bilhões em receitas de créditos de carbono até 2030, com destaque para as oportunidades nos setores agropecuário e de energia. Além de ser signatário do acordo sobre metano, o Brasil assumiu o compromisso de eliminar o desmatamento ilegal até 2028 e neutralizar suas emissões até 2050. A agropecuária é um dos principais eixos para atingir essas metas ambiciosas. 

Ao longo de décadas, o Brasil tem conquistado reconhecimento global devido à sua experiência em práticas conservacionistas e ao potencial de seu sistema agrícola. Essas características são ainda mais evidenciadas ao considerarmos a capacidade do setor agrícola de se tornar carbono positivo, contribuindo para a remoção líquida de carbono da atmosfera. Essa perspectiva oferece uma oportunidade significativa para o setor se adaptar às novas necessidades e desempenhar um papel crucial na mitigação das mudanças climáticas. 

Embora as emissões de gases de efeito estufa associadas ao agronegócio sejam significativas, existem práticas e abordagens disponíveis para compensar essas emissões e até mesmo gerar um saldo líquido negativo, resultando em maior absorção de carbono do que emissão. Isso significa que o setor agrícola pode não apenas reduzir suas próprias emissões, mas também contribuir positivamente para a remoção de carbono da atmosfera. 

Para atingir esse objetivo, além de reduzir as emissões onde possível, é essencial adotar práticas sustentáveis que estimulem a captura e o armazenamento de carbono no solo. Dentre essas práticas, destacam-se a agrossilvicultura, a agricultura regenerativa, o manejo sustentável de pastagens, o reflorestamento e a restauração de ecossistemas. Ao implementar esses procedimentos, além de reduzir as emissões, é possível melhorar a saúde do solo, preservar a biodiversidade e aumentar a resiliência do sistema agrícola, tudo isso sem comprometer a produtividade. 

Além disso, é fundamental considerar o uso de fontes de energia renováveis, como a instalação de painéis solares nas propriedades rurais, a adoção de tecnologias mais eficientes, como sistemas de irrigação por gotejamento e o manejo preciso de fertilizantes, que ajuda a minimizar as perdas e otimizar o uso desses recursos, resultando em uma redução de emissões. 

Para ilustrar, um estudo da Embrapa Arroz e Feijão em Goiás comparou o sistema de integração lavoura e pecuária (ILP) com o sistema de sucessão de culturas de grãos (soja-milho) em relação ao acúmulo de carbono no solo. O sistema ILP, especialmente com plantio direto, mostrou um aumento significativo no acúmulo de carbono em comparação com os sistemas de sucessão de culturas, com taxas de acúmulo entre 0,60 e 0,90 tonelada por hectare ao ano.  

Embora ainda não haja um mercado regulado para créditos de carbono no Brasil, os produtores rurais podem gerar esses créditos por meio da implementação de práticas sustentáveis que resultem na redução das emissões de GEEs na atmosfera. Esses créditos, depois de validados, podem ser negociados e comercializados no mercado voluntário, proporcionando uma oportunidade de receita adicional para os produtores.  

No entanto, é importante ressaltar que alcançar a neutralidade ou se tornar carbono positivo requer esforços abrangentes e uma abordagem sistêmica. Cada propriedade e cada cadeia de suprimentos agrícola terão desafios e oportunidades específicas, e as práticas e estratégias precisarão ser adaptadas às circunstâncias locais. 

O caminho para o agronegócio se tornar baixo em carbono envolve a combinação de práticas sustentáveis, inovação tecnológica, monitoramento rigoroso das emissões e investimentos em projetos de compensação de carbono. 

Embora seja um desafio complexo, o agronegócio desempenha um papel crucial na transição para uma economia de baixo carbono e na mitigação dos efeitos das mudanças climáticas. O setor agrícola brasileiro possui uma oportunidade única para se estabelecer como uma força positiva nesse combate, agregando valor aos seus produtos e atendendo à crescente demanda global por produção sustentável.